Aterrei em São Miguel de manhãzinha, eram 8 da manhã. O dia todo por diante para aproveitar aquela ilha verde. Foi chegar e sentir aquela atmosfera atlântica, a brisa do mar e o sol, que tinha fugido de Portugal continental e que ali já morava à minha espera. É a maior ilha do arquipélago dos Açores e a mais povoada, com quase 65 quilómetros de comprimento e apenas 15 de largura máxima. E onde…têm o sotaque mais acentuado dos Açores!
Quando os descobridores chegaram aos Açores, pensavam as aves que viam eram de rapina, os chamados “açores” (que é a ave que aparece hoje na bandeira da região). Afinal, o que viam eram uma espécie de águia de asas redondas, apelidadas pelos descobridores de “Milhafres” ou Queimados”.
No entanto, também existiu a teoria de que o nome da ilha provém do nome Azureus, que em latim significa Azul, como referência ao céu azul da ilha. Há quem diga também que os Açores já apareciam nos portulanos genoveses do século XIV, ou seja, antes de terem sido oficialmente descobertos.
Ponta Delgada
O descobrimento deste arquipélago (1426-1439) encontra-se assim descrito:
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“O Infante D. Henrique, desejando conhecer se haveria ilhas ou terra firme nas regiões afastadas do Oceano Ocidental, enviou navegadores. (…) Foram e viram terra a umas trezentas léguas a ocidente do cabo Finisterra e viram que eram ilhas. Entraram na primeira, acharam-na desabitada e, percorrendo-a, viram muitos açores e muitas aves; e foram à segunda, que agora é chamada de S. Miguel, onde encontraram também aves e açores e, além disso, muitas águas quentes naturais.”
Há várias razões que me maravilharam nos Açores, e aqui enumero alguns motivos que me fizeram adorar a ilha de São Miguel e explico porque me farão voltar.
1. NATUREZA AUTÊNTICA
Já repararam que quando algo é demasiado bonito, perfeito demais para ser verdade, se associa sempre ao que não é real, ao que é falso? Já me deparei várias vezes a pensar porque o fazemos, mas na verdade não encontro resposta. Parece que o perfeito só se pode comparar ao artificial.
Começo pela natureza em São Miguel, que é verdadeira e exuberante. Pelos verdes prados, imensos, imaginariamente desenhados à mão, com deslumbrantes lagos ao lado, com vaquinhas ás manchas pretas e brancas a pousar e não a pastar, cheias de paz, que só fazem lembrar os anúncios do chocolate Milka.
Furnas
Cultivo de chá, na Gorreana

2. PELAS…PISCINAS DE ÁGUA QUENTE
Falar de Açores é estar constantemente a falar de natureza e simplicidade, que se transformam em beleza pura. Ir aos Açores é aprender a ser consciente dos poderes e do esplendor da natureza. As piscinas de água quente são apenas uma das traduções que se podem fazer disso.
Ao ser uma ilha vulcânica, aconselho vivamente a irem às Poças da Dona Beija e à Caldeira Velha, um verdadeiro momento de relax!
Poças Dona Beija
Poças Dona Beija

Caldeira Velha
3. PELAS…LAGOAS MÁGICAS
Apesar deste ponto estar incluído na Natureza Autêntica, quis separá-lo. A que mais me surpreendeu, e não sei se foi por ser a primeira, foi a Lagoa do Fogo, sobretudo pela sua cor, além de toda a incrível vegetação endémica que a rodeia.
Lagoa do Fogo
Lagoa das Furnas
Lagoa das Sete Cidades
Lagoa das Sete Cidades

4. PELA…QUALIDADE DA GASTRONOMIA
É um lugar que não podes deixar de provar a carne e o peixe. Ambos excelentes, de uma qualidade superior! Quando forem a São Miguel não podem deixar de ir ao Restaurante da Associação Agrícola de São Miguel (comer a costeleta de vaca) e ao Restaurante Tony’s comer o cozido das furnas. Para o peixe recomendo vivamenteRestaurante Borda D’Água um clássico da zona e um referente por ter os melhores peixes da ilha e pela simpatia das empregadas e O Alambique sem dúvida pela qualidade do peixe e pela amabilidade dos donos- recomendo vivamente a provarem a garoupa!!
Restaurante da Associação Agrícola de São Miguel

5. PELAS CAMINHADAS
Eu fiz uma rota pela Furnas. Se bem me recordo foram 14 km e o começo não foi nada fácil, porque tinha acabado de comer o cozido das furnas (uma prática nada recomendável mesmo), mas não houve outra opção. O ponto positivo foi que ajudou a comida a descer!
6. PELOS… PRODUTOS REI DA ILHA
Uma das minhas frutas favoritas é o rei desta ilha e tive o privilégio de a provar: ananás orgânico!
Sabiam que para uma produção biológica de ananáses, estes precisam de esperar dois anos até que dêem fruto? Incrível não é? Ah, e de cada planta apenas sai um ananás. Além disto precisam de estar dentro de uma estufa a 35 graus e com humidade de 99%. Assim compreende-se que estejam tão incrivelmente saborosos. Se repararem são muito diferentes daqueles que encontramos normalmente no supermercado, que é o abacaxi. Este é o fruto rei dos Açores, e com razão!
Outro dos produtos que gostava de ter provado era o maracujá, mas não encontrei em nenhum supermercado. No entanto provei algumas sobremesas com este fruto, e estavam deliciosas!
7. PARA… TOMAR O CHÁ DA GORREANA
O chá foi descoberto pelos portugueses e trazido para a Europa na época dos Descobrimentos e tornou-se uma bebida muito popular entre a nobreza europeia. Depois de uma grande crise que devastou a plantação de laranjeiras nos Açores, o cultivo do chá foi uma das alternativas incentivadas pela Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, no século XIX.
O clima da ilha rapidamente confirmou que aquele era o sítio ideal para o seu plantio e desenvolvimento. Esta Sociedade trouxe, naquela altura, dois técnicos chineses de Macau a São Miguel que trouxeram outras sementes novas e lhes ensinaram as técnicas de preparação das folhas e fabrico do chá.
A Gorreana detém o título de mais antiga fábrica de chá da Europa, já que começou a produzi-lo em 1883.
Entrada para a fábrica do chá da Gorreana

Trabalhadoras da Fábrica

Plantação do Chá
Na área da Gorreana, daí o nome desta fábrica, o solo argiloso e ácido permitiu a obtenção de um chá perfumado e de travo agradável. Nesta propriedade de 75 hectares, o chá da Gorreana é conhecido por ser um produto ecológico, livre de pesticidas. Aqui produz-se chá preto, chá verde e semifermentado.
8. PARA… PROVAR O LICOR DE MARACUJÁ NA MULHER DE CAPOTE
Se forem fãs de licores aconselho-vos a passar pela Fábrica de Licores, Mulher de Capote. Aqui, além do licor de maracujá, o típico da região, existem outros como o Licor de Natas Queen of the Islands, Licor de Anis (com rama), etc. Uma óptima oportunidade para ver como são elaborados os licores nesta fábrica.
9. PARA… TOMAR UM CAFÉ NO NÁUTICO DE VILA FRANCA DO CAMPO
Embora seja um local de passagem, é memorável pela calma que se sente. A ideia era apanhar o ferry aqui e ir até ao ilhéu Vila Franca, mas foi impossível visto que este transporte só começa a funcionar na época de verão. Fiquei sem ver o ilhéu, mas pude beber um cafezinho na esplanada do náutico de Vila F. do Campo e que me proporcionou muito bom feeling!
10. PARA…TERMINAR O DIA NAS PISCINAS NATURAIS DA LAGOA
Um óptimo plano para terminar a visita à ilha, deitada à beira-mar em cima de alguma rocha, a ouvir “o francês” deles e a desfrutar daqueles últimos momentos na ilha verde, com o som das ondas de fundo.
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RABO DE PEIXE
A paragem em Rabo de Peixe não estava nos meus planos. Mas quando vi o ambiente da vila, tive de parar, por isso também incluo este ponto aqui no post. Para mim a beleza também cabe nas coisas “menos bonitas” ou “menos agradáveis de ver”, porque isso forma uma realidade muito viva, que merece ser vista e destacada.
Uma vila com uma decadência altamente fotogénica: grupos de adultos juntos à beira mar, sem mais nada fazer do que conviver, meninos sozinhos, outros em grupo que pareciam colocados de propósito para umas fotografias marcantes. Deu para perceber, pelo pouco tempo que estive ali, que Rabo de Peixe é um sítio que sofre de pobreza e falta de oportunidades. E embora no continente já estejamos habituados a isso, aqui em São Miguel, pelo menos na totalidade da ilha, as desigualdades não se percebem tanto a olho nu. Coisa que não passou despercebida em Rabo de Peixe.
Rabo de Peixe
Rabo de Peixe