Decidimos visitar Singapura quando estavamos em Malacca (Malásia), que fica a duas horas. Foi uma decisão rápida e de última hora porque não contávamos em ir a esta cidade-estado tão intimidante e ao mesmo tempo, tão curiosa. Na noite anterior investigámos um bocadinho sobre as proibições e multas mais comuns. Para quem não sabe, Singapura é conhecida pelas multas pesadas. Mascar pastilhas, levar cigarros electrónicos, vencimento do visto ou beber água no metro são acções banidas e que deves cumprir sob pena de multa pesada ou mesmo cadeia.
Mesmo antes de entrar no autocarro o Alfonso viu-se obrigado a oferecer o cigarro electrónico dele a um desconhecido porque se no controlo de raios descobrissem que ele levava um cigarro electrónico na mala, provavalmente a multa (e sabe-se lá que mais) iria ser dura. Mas atenção, só soubemos isto na noite anterior! (Ironia das ironias: Os cigarros normais não são proíbidos, mas só podes levar um maço de tabaco.)
Tudo estava a correr bem até…
O motorista do autocarro nos deixar a pé entre a fronteira da Malásia e Singapura.
Antes de chegar a Singapura tens de parar duas vezes: uma para registar a saída do país de onde sais e outra para dar entrada no país que entras. Assim foi. Na primeira paragem não necessitámos de levar toda a bagagem. Só levamos as coisas de mais valor e deixamos a mala grande na bagagem do autocarro. Na segunda paragem tivemos de levar toda a bagagem porque nos iam fazer um controlo de Raios X (como fazem sempre nos aeroportos). Demoramos 15 minutos no controlo (20 no máximo). Chegámos à paragem dos autocarros (onde supostamente nos iam esperar) e não queriamos acreditar que o condutor se tinha ido embora sem nós! (ps. nós sabíamos que muitas companhias não esperavam mais de 30 minutos, mas nós não demoramos mais de 20, porque sabíamos que isso podia acontecer, e por isso estávamos a controlar a hora).
Calma e esperança foi o que restou…
Para vocês terem uma ideia, aquilo era apenas uma estação de autocarros. Não havia quaisquer serviços nem pessoas que nos pudessem ajudar a conseguir resolver o nosso problema, porque afinal… O condutor fugiu. Tentámos ligar para a respectiva companhia de autocarros, mas sem sucesso. Nem táxis havia ali. A nossa opção seria sempre o autocarro – outro autocarro. Além deste pequeno imprevisto, não posso deixar de dizer que nos sentíamos um pouco nervosos por entrar num país tão “diferente”. Impõe um certo respeito que haja tantas proibições e que as penas sejam tão duras e intolerantes. Então nesse momento havia um misto de nervos e medo.
Mantivemos a calma. Sugeri ao Alfonso tentarmos a nossa sorte perguntando a algum condutor se nos levava. Era mesmo uma questão de sorte porque o “não” era garantido. Ninguém ia querer saber se nos tinham abandonado ou não, o problema era nosso. Mas eu tenho sempre muita esperança em relação a estas coisas. E não é que funcionou? Não foi à primeira, mas foi à terceira. Um homem muito bondadoso levou-nos até Singapura num autocarro de outra companhia.
Singapura: “Disneyland com pena de morte”
“Disneyland with the Death Penalty” é um artigo de 4.500 palavras sobre Singapura escrito por William Gibson. Não é uma frase minha, mas apeteceu-me roubá-la para este post. Nesse artigo o autor fala da cultura da cidade, da impressão limpa, branda e conformista que a cidade-estado trasmite. Este diz também que os singapurianos são consumidores de sabor insípido e que o governo é corporativista, tecnocrático e o sistema judicial é rígido e draconiano.
A sociedade singapuriana é uma “experiência impiedosa”, controlada por um governo semelhante a uma megacorporação, fixada na conformidade e na restrição comportamental e com uma acentuada falta de humor e criatividade.
Realmente, aos meus olhos, Singapura não foi muito diferente desta descrição. Este país dá a sensação de leão controlador, de Estado que aparenta ser uma corporação enorme que excita e distrai os seus habitantes e turistas com enormes e espectaculares edifícios e com imponentes jardins e parques de atracções. Um exemplo é a ilha Sentosa.
As praias desta ilha são artificiais e estão isoladas do oceano por meio de diques, por isso não esperes encontrar grandes ondas. Nas praias também vais encontrar WC onde podes tomar banho, armários e até pontos de acesso à internet.E não se deixem enganar, porque nesta ilha tens mais atracções que numa cidade média de Portugal!
Além de contar com um casino (como não?), também está ali o parque de diversões da Universal Studios dentro do grande complexo Resorts World Sentosa, a Torre de observação giratória, um Museu interactivo, a Estátua de Merlion, um parque de borboletas, um grande aquário, um forte da segunda guerra mundial… Enfim, motivos para te aborreceres não existem aqui. Sentosa não será -provavelmente – a razão da tua viagem á Singapura. Mas vale a pena ver este sítio, que parece de outro mundo.
Em jeito de conclusão, foi um sítio que gostei muito de visitar. Pareceu-me verdadeiramente espectacular: arquitectonicamente muito bonito e super organizado. O chão das ruas era tão limpo que dava a sensação de poder deitar-te ali e não sujar a roupa. Gostei muito de passear pelos jardins da marina – também ele cheio de proibições, mas muito bonito – e pela beira do rio.